Era uma manhã fria e chuvosa quando saí de casa para reunir-me ao grupo de amigos que estavam dispostos a adentrar aquela velha casa. Meus sentimentos combinavam com o tempo, pois sentia-me um pouco desanimado; mesmo assim, segui confiante pelo caminho.

     Confesso que não estava ansioso para chegar e me unir aos companheiros, afinal recordava-me muito bem que não foram poucas as vezes em que vi pessoas curiosas – assim como nós – saírem na base do carreirão daquele barracão de madeira esquisito, construído em meio ao matagal nos fundos do terreno. Se não me falha a memória, havia um enorme abacateiro ao seu lado.

     Não demorou muito e lá estava eu, rodeado pelos amigos, cansados de me esperar; todos tenebrosos, mas eufóricos para iniciar a aventura. Eu, conforme informei, não estava lá muito animado; ou melhor, para ser sincero, já que não gosto de mentir, estava mesmo era com medo, muito medo, mas fui obrigado a participar; caso contrário, seria arrastado à força.

      Aos poucos, lentamente e sem pressa, aproximamo-nos da porta da velha casa, que encontrava-se fechada. Não foi preciso força e insistência para abri-la. Um simples movimento na maçaneta e pronto! Uma terrível discussão teve início para ver quem seria o corajoso a entrar primeiro. Não me importei em dar opinião. Fiquei quieto, apenas aguardando a decisão, mas antes tivesse me manifestado... A escolha acabou caindo sobre mim.

  Empurrei a porta ao som de dobradiças enferrujadas e entrei. O lugar cheirava a mofo e tinha teias de aranha por todo lado, que colavam à pele a cada movimento. Mesmo detestando coisas grudentas, segui em frente. Por um instante, resolvi olhar para trás para ver se meus amigos me seguiam. Foi quando percebi que não havia ninguém me acompanhando; estava sozinho naquela jornada.

        Com receio, retornei e saí. Assustado, branco feito leite, encontrei os covardes dos meus companheiros com as mãos lambuzadas e as caras verdes de tanto comer abacates. Indignado e irritado, chamei-os de volta.

        Dessa vez, entramos todos juntos. A maioria olhava com cuidado e tentava desvencilhar-se dos fios pegajosos das aranhas. Observamos cada objeto que ali se encontrava. Uma mobília antiga, quadros com cenas de terror pendurados nas paredes, espadas velhas encostadas nos cantos, panos pretos e vermelhos espalhados pelo chão.

     Um dos comparsas me deu um toque nas costas: quase morri do coração e perguntei o que queria. Com o dedo indicador, ele me apontou um crânio humano em cima de uma pequena estante. Comecei a rir. Disse que era apenas um pedaço de esqueleto, nada mais... Resolvi olhar novamente, quando fui surpreendido – não estava mais lá!

      Ao virar para o lado, a caveira encontrava-se, agora, sobre uma poltrona empoeirada. Engoli em seco e nós saímos de mansinho, sem olhar para trás.

         Fora do barracão, deixamos a porta aberta, mas ela fechou-se sozinha após nossa saída. Minhas pernas tremiam e pareciam bambas. Meus amigos estavam pálidos e amedrontados.

         Sentamo-nos em um tronco a poucos metros dali, para tomar fôlego, quando, diante dos nossos olhares inquietos, um gato preto passou, vagarosamente, com o crânio sorrindo em cima do dorso. Não esperamos um minuto sequer, saímos correndo daquele terrível lugar assombrado.

       Hoje, estamos crescidos, não somos mais aqueles adolescentes medrosos. A velha casa não existe mais, deu lugar a uma loja de móveis; mas sempre que passamos por ali, um ar de lembrança nos faz recordar do fantasma que, um dia, dali nos expulsou.




Editor: Tito Prates

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